segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Intercâmbio entre Bancos de Sementes Crioulas

Maurício, Oldi, Guilhermina e Cândida
Roça de cebola e amendoim.
por Maurício Queiroz*
Com apoio da Cáritas RS, nos dias 17 e 18 de novembro aconteceu o intercâmbio entre os Bancos de Sementes Crioulas em Erechim. Na verdade foi uma visita feita pelos Bancos de Sementes Crioulas de Santa Cruz do Sul e de Bagé, juntamente com representação da Cáritas Brasileira Regional do RS a fim de conhecer aquela experiência.
Participaram Banco de Sementes de Santa Cruz do Sul; Oldi Helena Jantsch, Maurício Queiroz e Cândida Taís Maders. Banco de Sementes Crioulas de Bagé: Tomás, Emerson Capelesso, Jean e Erni. Pela Cáritas RS Altair Pozzebon. Edson Klein do Banco de Sementes de Erechim fez um roteiro de visitas à 4 propriedades de agricultores e agricultoras envolvidos na produção de sementes crioulas, de um total de 15 famílias.
O depósito do Banco de Sementes
Crioulas é um casinha
coberta por terra para melhor
conservar as semente.
As visitas iniciaram na comunidade de Vaca Morta, município de Três Arroios, na propriedade da agricultora Zelinda. A família da Zelinda há quase 20 anos trabalha com agroecologia com assessoria do CETAP (Centro de Tecnologias Alternativas e Populares), dedicam-se a produção ecológica de hortaliças juntamente com mais 7 famílias que fazem feira semanal. Chamou nossa atenção nesta propriedade o pomar com laranjeiras, pereiras, macieiras, em sistema agroflorestal bem implantado, além do cultivo de sementes das seguintes hortaliças: salsa, linhaça, cenoura, rúcula e cebola. Para termos uma idéia a Zelinda produziu na última safra 60kg de sementes de rúcula. É nesta propriedade que está localizado o Banco de Sementes Crioulas, digamos assim a reserva das sementes que é guardado em uma pequena construção praticamente subterrânea, por que o Banco de Sementes Crioulas é desde as propriedades envolvidas.
A tardinha fomos visitar um casal de camponeses, o Agostinho e a Guilhermina, ele de origem Italiana e ela de origem Alemã que acabou se entretendo com a Oldi e a Cândida conversando na língua alemã que se orgulham em preservar. Caminhamos até a roça e vimos uma propriedade como poucos camponeses tem hoje, a diversidade de sementes crioulas que o casal produz é impressionante, embora a família ainda utilize adubos químicos e as vezes agrotóxicos caminha na direção da agroecologia. Já plantados, milho, feijão, mandioca, amendoim, arroz, batatinha, batata doce, abóbora, etc. Só de amendoim são sete variedades multicores. Depois das voltas na roça, fomos até o porão que é um verdadeiro celeiro onde guardam sementes e alimentos para o consumo e também para vender. Queijo molhado no vinho tinto e envelhecido e copa defumada era o aroma do porão. Este casal de agricultores tem soberania e segurança alimentar, não dependem de comprar comida, se orgulham em dizer que nunca compraram arroz e feijão para comer, sempre produziram.
No porão do agricultore Guilhermina e Agostinho
No dia seguinte visitamos Jandir e Carmen Deotti, na comunidade de Jubaú, município de Barra do Rio Azul. Jandir participou do 11ºEncontro Diocesano de Sementes Crioulas, em 15 de junho em Passo do Sobrado onde adquiriu algumas variedades, lá participaram de intercâmbio com o Banco de Sementes Crioulas de Santa Cruz do Sul. Jandir produz milhos das variedades, Pixurum, Cordilheira, Amarelão e um cruzamento que ha 20 anos vem realizando entre duas variedades, produzindo a própria semente. Caminhamos até a roça e trocamos idéias e experiências referentes aos cultivos. Jandir cuida muito bem para manter as variedades puras e é um dos agricultores que deseja trabalhar com agroecologia.
A última experiência que visitamos foi no agricultor Paulo Lunkes, no município de Aratiba. Paulo está iniciando o trabalho com agrofloresta onde cultiva citrus. Produz soja crioulo da variedade Santa Rosa Branco, produziu mais de 600kg de sementes de Ervilhaca Comum, utiliza adubação verde especialmente de inverno. Este agricultor neste ano está reduzindo pela metade o uso de adubos químicos, graças a um adubo orgânico que está misturando na hora do plantio o que é algo muito significativo.
Apesar do cansaço, foram dois dias inesquecíveis. Valeu o esforço do Edson e das famílias que com alegria contaram um pouco de suas histórias. Combinamos que dias 24 e 25 vamos visitar o Banco de Sementes Crioulas de Bagé.
*Maurício Queiroz é Técnico Agrícola, estudante de Biologia, agente da CPT na Diocese de Santa Cruz do Sul e membro da coordenação colegiada da CPT-RS.

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